sexta-feira, 27 de maio de 2016

11 minutos

O que precisamos entender, antes de qualquer coisa, é que 33 homens não violaram o corpo de uma mulher. 33 monstros violaram o corpo e alma de uma mulher – filha de um pai que prometeu sempre protegê-la e terá que viver com o sentimento de ter falhado em sua mais importante missão, filha de uma mãe que a carregou junto ao peito em noites em claro e que, agora, vê que mentiu ao afirmar que o mundo é seguro. Foi uma alma que 33 dilaceraram rindo, vangloriando-se, filmando. Foi uma alma que foi exposta para deleite de muitos através de um vídeo.
            Não choro apenas pela menina. Choro pelas mulheres, pelos estupros silenciosos que ocorrem a cada 11 minutos no país, pelo silêncio de muitas mulheres após serem molestadas em locais públicos, pela sociedade que afirma que a mulher é a culpada pela roupa que usou ou como se comportou. Ela não estava sozinha e exposta diante de 33 marginais, ali, ao seu lado, sofrendo do mesmo crime, estavam todos nós, toda uma sociedade que fecha os olhos diariamente a barbáries. Os 33 dilaceraram a alma de todos que ainda possuem um pouco de dignidade no coração.
            As roupas não deitam sobre ninguém de maneira forçada e nem decidem passar a mão nas nádegas de alguém. Elas não gritam “elogios” ofensivos para alguém passando na calçada. Não é a inconsciência – por bebidas ou drogas em excesso – que resolve dar uma “esticadinha” após prometer uma inocente carona solidária.
            O que faz tudo isso é o machismo encravado dentro da sociedade. O machismo que ensina de forma velada que não devemos evoluir, que precisamos urinar em postes para marcar territórios, urrando como selvagens, que as mulheres precisam se darem ao respeito diante de nossa “justificável e natural” irracionalidade masculina hormonal.

            Hoje, sinto-me violentado e envergonhado por ser, biologicamente falando, homem como os 33 covardes. O pior de tudo é que não há punição suficiente. Os sonhos não poderão ser devolvidos àquela jovem. A cicatriz dificilmente poderá ser fechada. Como explicar para ela que o mundo pode ser bom? Como mostrar que um homem pode ser carinhoso? Como lhe devolver dignidade, vida e esperança? Não existe prisão, não existe punição, não existem respostas. Existe apenas uma mulher jovem, no início de sua vida, aos pedaços, dilacerada em 33 partes, um reflexo fiel da triste realidade que vivemos. 

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