quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

De Sócrates à mesmice



Sócrates confrontou Íon com os problemas da sua própria lógica em uma discussão belíssima. Enquanto no bar, a conversa também rolava solta. Já eram mais de onze horas da noite e cada membro da mesa central tornava-se, a cada conversa iniciada, uma vítima em potencial da base psicológica, afetiva e, em alguns casos, econômica do lar. Ninguém era grego, e tirando Sardinha e seu esforço em ser alguém culto, o único Sócrates que conheciam era o doutor e tinha jogado no Corinthias e na seleção de 82. Alheios ao perigo que os aguardava, continuavam as animadas discordâncias boêmias. Sardinha, operário de uma empresa da região e sindicalista ferrenho, defendia a necessidade de reforma política profunda. Teodoro, militar da reserva aposentado, retrucava: comunista! Marcelão, vendedor em uma loja de eletrodomésticos, adorava colocar lenha na discussão e, sempre, afirmava que eram tudo farinha do mesmo saco. Entretanto, uma coisa ele sabia, não dava para o Grêmio jogar com três volantes. Sardinha concordava veementemente, já Teodoro dizia que se o Grêmio quisesse jogar com dez volantes, o problema não era dele, além do mais, o Grenal estava chegando e, com esse time, o Grêmio não ganharia nunca do Inter. E toda vez que falava isso, o militar beijava o escudo do colorado no peito. E assim, seguia a noite, uma conversa posta na mesa e o bar transformava-se na sede da ONU, cada um puxando a brasa para si. Entretanto, ao final das exaustivas discussões, cada um acrescia respeito, admiração e amizade para o outro.
A verdade é que a coisa tá ficando chata. Não existe mais pontos de vistas. O radicalismo, ou qualquer coisa parecida está tomando conta. Hoje, nosso bar, para o bem ou para o mal, são as redes sociais que todos os dias aparecem inundadas de intolerância e falta de receptividade com a opinião alheia. Ao mesmo tempo que o país vai tomando ares políticos e críticos, a falta de diálogo vai ganhando força, fechamo-nos cada vez mais dentro de nosso pequeno mundo de segurança, onde nossos argumentos ecoam eternamente, e omitimos as vozes e lógicas contrárias aos nossos ideais. Discutir virou sinônimo de briga, quando discutir deveria ser sinônimo de evolução, crescimento, alargamento ideológico, entre tantos outros termos mais agradáveis.
Essa semana foi marcada pelo anúncio por parte da direção do Internacional da concretização de um espaço para torcida mista no Grenal. Bem, se a política está se tornando chata devido a intolerância, o futebol já é adulto nessa área. É no mínimo lamentável ter que haver uma iniciativa para isso, quando deveria ser algo natural. Em São Paulo, quarenta e três torcedores corinthianos espancaram quatro torcedores são-paulinos. Foram detidos, sabe quem pagou a fiança?  A própria torcida organizada que afirma que os baderneiros são minoria. No momento em que um torcedor se acha no direito de agredir o simpatizante do time adversário porque perdeu, o rapaz tirou sarro ou não poderia “ter passado ali naquela hora”, perdemos toda a nossa socialidade.
Sorte mesmo teve Sócrates de não ter nascido hoje, caso contrário, a sua discussão com o rapsodo Íon, relatada por Platão, teria terminado com Íon excluindo Sócrates do Facebook, exclamando o tão idiotas são pessoas que pensam como ele e, após uma semana de intenso “diálogo”, espancando o grego em algum metrô.

                Louvado seja que Santa Cruz do Sul não tem metrô!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Quinze minutos com o Big Brother

   Dia desses, eis que acabei por assistir três minutos da edição do Big Brother Brasil 15. Na hora, tirei do canal, não poderia assistir tal insanidade. Entretanto, lembrei de meus vorazes leitores (meus pais e minha esposa) que adorariam ler minha opinião sobre o tema. Parti, então, para a pesquisa de campo. Poderia fazer uma pesquisa, mas as férias não permitiram. Férias, será que o inventor das férias patenteou a ideia? Algo como: a cada funcionário que recebe o direito de férias, a família do pioneiro recebe um valor. Não percamos o foco, Big Brother. Enfim, sem tempo, ânimo, vontade e local, optei por uma exploração minuciosa de quinze minutos em frente à televisão para poder ter material para escrever.
 Guiado pela chamada Heróis, proferida pelo apresentador do programa, criei meu estereótipo baseado na experiência com o valor semântica do termo no país, ou seja, esperei ver um esportista com uma medalha. Por falar em heróis, poderíamos usar a palavra para descrever àqueles que saem de casa cedo, que não fazem a mínima ideia do que venha a ser bolsa de valores, ações, mas que conhecem dívida, salário baixo, trabalho, luta. Dizia um amigo meu que o melhor economista é o cidadão que ganha um salário mínimo, sustenta uma família e ainda consegue fazer o filho(a) estudar e ser alguém na vida. Para ele, esse deveria ser nosso Ministro da economia. Não sei se ele está certo, agora, o que sei é que para o Big Brother esse cidadão não serve. Para receber a alcunha de herói no “simpático BBB”, a primeira exigência é possuir cabelos alinhados perfeitamente. Os cabelos, aliás, são um caso à parte. É impressionante, eles acordam e, sem o auxílio de cabeleireiros ou profissionais da área, conseguem produzir penteados fantásticos. E eles desempenham papel fundamental modelando os rostos femininos milimetricamente maquiados lembrando as novelas mexicanas que tanto sucesso fazem no mundo.
Além dos aspectos citados acima, nos quinze minutos em que estive em frente ao televisor, descobri que as pessoas são falsas, invejosas, conspiradoras, vulgares, entre outros “dramas” enfrentados pelos confinados. Claro, descobri que um determinado supermercado propicia a melhor experiência em compras, tese que discordei silenciosamente, pois não consigo imaginar uma ida alegre a lojas cheias. 
O que consigo escrever sobre o que assisti sobre o BBB15 é isso. Porém, se levar em conta o que li na internet...bem, um casal vai casar com certeza, Marcos (não lembro se é com u ou com o) é o grande vilão da história, ontem teve paredão, entre outras coisas. Cuidado com os quinze minutos...