sábado, 28 de junho de 2014

Um dia de imperador


         O goleiro é um ser a parte no futebol. É o único dos 11 jogadores a poder tocar a bola com as mãos. Recebe como única missão evitar o que todos os envolvidos esperam: o gol. Goleiro não erra, goleiro entrega uma partida. Depois dele só há o fotógrafo. Se a geografia servisse como metáfora para o futebol, ele seria um deserto, uma área isolada. Tanto é verdade que apenas onde ele joga não cresce grama. Na hora do gol, onde ele está? Do lado oposto do campo. Em um esporte praticado pelos pés, para ele restam as mãos. Não há pai nesse mundo que deseje esse futuro ao seu pequeno futuro craque. 
        Os dois goleiros estão em um espaço transcendental do campo. Ninguém utiliza o uniforme igual ao deles. São únicos. Para poder redimir-se de um erro, têm que torcer contra seu próprio time. 
         Eis que o futebol reserva mais uma oportunidade para um deles aparecer. Quis as forças secretas, que só existem nesse retângulo verde, que um brasileiro com nome de imperador romano ficasse com os louros da vitória. Se o Brasil será campeão ou não, o tempo e as previsões dirão. Entretanto, que em um sábado de junho um país viu um jogador brilhar mais do que qualquer um, isso já não pertence a nós e sim a história.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Falha Nossa





Você é, conheceu, conhece ou conhecerá. Estão espalhados aos montes por aí: pessoas que não assumem e encaram seus erros. Eu estou no primeiro grupo. Minha roupa não secou devida à chuva insistente no fim de semana, culpa do tempo e não minha que não aproveitei toda a semana para lavá-la. Faltou dinheiro no fim do mês, culpa da vida injusta e dura causada pela má distribuição de renda e não do gasto descontrolado. Somos defensivos por natureza, você também o é, se não concordar é porque ainda não se analisou corretamente.  Falar mal de si mesmo é o mais difícil dos exercícios.
             Apesar disso, a nossa maior falta é enquanto nação. Grande maioria das pessoas foi a favor da realização da copa quando essa foi anunciada. Agora que ela está ocorrendo, querem protestar e contestar veementemente contra a realização do evento.  Achamos um bode expiatório para nossa falta de comprometimento histórico em eleger políticos. Conseguimos uma desculpa para nossa inércia diante de anos de corrupção. Podemos olhar no espelho sem vergonha da amnésia crônica que faz com que políticos condenados por atos ilícitos consigam  se eleger alguns anos depois. A culpa de tudo é da Copa do Mundo.

É alienação parar em frente da televisão para torcer e assistir os jogos da copa, mas nunca foi alienação desligar a televisão durante o horário político, reclamar por precisar separar quinze minutos de um domingo para votar e não procurar saber o que fizeram e deixaram de fazer cada candidato a reeleição.
Preferimos acreditar que vivemos em uma monarquia, e a “rainha” Dilma fez tudo sozinha. Humilhamos a representante escolhida pela nação diante do mundo. Nunca fui defensor do governo de Dilma, particularmente acredito que cometeu inúmeros equívocos. Contudo, é preciso lembrar que há uma estrutura governamental por trás de tudo isso. Mais do que em qualquer outro lugar é na política que o ditado “uma andorinha sozinha não faz verão” pode ser empregado. Apenas um posicionamento forte e crítico constantemente nos próximos anos legitimará a atual indignação da população. Caso contrário, tudo isso não passará de inconformidades partidárias, modismo ou fogo de palha. Não distribuímos a parcela de culpa com os verdadeiros culpados. Nada mais natural, não conseguimos nem assumir a nossa.