quarta-feira, 4 de maio de 2016

Histórias curtas 3

Instantes       

          Pensou na noite passada. Reviveu as perguntas e as respostas. Revisitou as réplicas, as tétricas, os gestos ruidosos, o copo, a parede, os estilhaços. Repensou a porta batida, a volta, a desistência, a porta batida, o som no último volume, as pancadas no volante, a indignação, a incompreensão e o travesseiro. Argumentos foram dados, corações foram feridos, não deveria ter falado aquilo, não deveria ter tomado aquela atitude. Jogara fora tudo que poderia ter sido, desfizera o sonho antes de ele poder acontecer, antes de ele ser possível. Abortara seu futuro de uma forma que nem ela entendia como. Derramava as mais sinceras e profundas lágrimas que existem: as solitárias, as individualistas, aquelas que são propriedades únicas de seu autor ou autora, que só existem para o mundo porque são testemunhadas por quem as chora. Um toque. Uma vibração. Um sobressalto. Uma mensagem: “Não posso viver sem você, vamos tentar novamente?”. A resposta rápida e imediata “Desculpa, foi um erro. Te juro! Nunca mais!”. “Não fala mais nada, não importa, importa nós! E só!”. Reviveu duas noites atrás. Reviveu os beijos e as carícias. Sorriu o mais sincero dos sorrisos. 

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