Não viveremos para sempre, a mortalidade
do homem é seu fardo eterno, uma antítese em ação. Bom seria se pudéssemos
adquirir o Tempo como uma mercadoria qualquer e armazená-lo em potes com cores
variadas. Colocá-lo entre o arroz e a erva para o chimarrão, usá-lo de forma
irrestrita, com a tranquilidade de, ao identificar o fim próximo, poder ir ao
mercado mais próximo e solicitar uma porção de Tempo da melhor qualidade.
Inexistente
em qualquer prateleira, de qualquer estabelecimento comercial conhecido, o
Tempo é o nosso calcanhar de Aquiles. A simbiose entre o homem e o Tempo é
doentia e repleta de requintes de crueldade, ainda mais ao percebermos que nós –
homens - constantemente negligenciamos a sua posse e importância. Iniciamos a
semana desejando a chegada do sábado, ignorando que, ao encarar os dias de
trabalho como torturas diárias apenas para um fim estabelecido, dispensamos, de
maneira consciente e premeditada, em um mês, 20 dias de nossas vidas. Concentramos
nossa felicidade em apenas dois dias de sete possíveis.
Em um mundo cada vez mais veloz,
não satisfeitos, aumentamos a velocidade ainda mais. Terminamos o período de
férias planejando o próximo, assim, entrando em uma constante rotina de
hibernação e automatismo intercalados por fins de semana, algumas noites e férias.
Contentamo-nos, por vontade própria, apenas com o doce fugaz da cobertura do
bolo, ignorando o recheio, por vezes, sem graça, mas fundamental e com muito
mais a oferecer.
Somos
escravos da finalidade, iniciamos os projetos visando somente os resultados
finais e maldizendo os trâmites e situações envolvidos no caminho até o
objetivo. Ausentamo-nos durante o longo processo de construção e elaboração,
fazendo-nos presentes somente no curto período de finalização e uso. Esperamos
um dia inteiro por um breve período de descanso à noite, no sofá de casa,
esquecendo as outras 12 horas do dia.
A vida está acontecendo em
todos os instantes. Ela se esvai rapidamente, escorre por entre as mãos que
trabalham, é carregada pela torrente constante do Tempo, não dá trégua
esperando por momentos perfeitos. Valorizar e, mais do que isso, saborear a
partida e não somente o resultado pode ser a resolução para, como disse Thoreau,
efetivamente sugarmos o tutano da vida. E, assim, no final de tudo, não termos
vivido apenas fins de semana e feriados.
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