quarta-feira, 30 de março de 2016

Histórias curtas 2


A casa

Quinta-feira
Chegou em casa cansado de mais um dia exaustivo. Desejava a poltrona mais do que tudo, almejava o silêncio e a tranquilidade. Mais que isso, sonhava não ter contas para pagar, voltar a se preocupar apenas com o time que cairia no futebol de fim de tarde na praça. Mas era adulto, estava casado, a mulher estava lá, esperando-o, querendo saber sobre o seu dia nada especial, maculando seu templo sagrado de silêncio. Assim era em casa.
Chegou em casa cansada de mais um dia exaustivo. Desejava uma cadeira, um chimarrão, quem sabe uma massagem nos pés maltratados pelos imensos e desconfortáveis saltos, um desvio da rotina doméstica, alguém que lhe preparasse uma janta. Mas era casada e o homem estava lá, esperando-a, querendo que ela perguntasse sobre o dia penoso que ele havia passado. Aguardando para relatar os reveses com um drama no olhar, assistindo impassível ela preparando a janta, ajeitando as roupas sujas e atendendo às crianças. Tudo isso, magnânimo, sentado naquela porcaria de sofá. Assim era em casa.
Chegou em casa cansado de mais um dia exaustivo. Será que poderia existir algo mais enfadonho que a escola? Desejava ter a vida do pai: trabalhar, chegar em casa, afundar no sofá, ser chamado para a janta, ter dinheiro no banco. Ou quem sabe a vida da mãe: ser bem sucedido no emprego, ter alguém do seu lado sentado no sofá todas as noites, possuir tudo o que deseja: máquina de lavar roupa último modelo, forno micro-ondas, um filho com saúde e, claro, dinheiro. Mas, casa, para ele, nesta fase da vida, significava quarto para arrumar, deveres escolares para fazer, janta para comer na mesa. Sofria demais. Assim era em casa.
No domingo, todos queriam churrasco, e a casa voltava a sorrir.

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