Salmão com molho
branco
Maldito salmão. Sempre fora
feliz. Feliz não, alegre. Jornalista, trabalhava em um jornal da cidade como
repórter. Não conseguira o status de ser reconhecido na rua, mas já achava seu
nome com facilidade quando pesquisava no google. Morava em um pequeno, mas
aconchegante apartamento no centro da cidade. Levava uma vida típica de um rapaz solteiro e
estabilizado financeiramente. Isso significava trabalho duro durante o dia,
happy hours no fim de tarde e inexistência de manhãs de fim de semana. Limitava-se
a um simples “bom dia” e “boa noite” com seus vizinhos. Esporadicamente falava
sobre o tempo, conversa típica de elevador: E essa chuva? Porém, um dia lhe
faltou o sal.
Estava preparando o seu jantar
quando reparou a ausência do tal condimento. Tentou recorrer a internet e a
alguma sugestão que pudesse ser utilizada, mas descobriu que seu almoxarifado
culinário não lembrava em nada aquele existente na casa de sua mãe. Resolveu recorrer
ao vizinho do lado. Bateu à porta. Aquele bater envergonhado, em um conflito
entre o querer e o não querer que alguém abra a porta. Após um minuto, que
lembrou uns dez minutos, uma mulher atarracada abriu a porta, era sua vizinha
de porta que ele não lembrava o nome. Feita as devidas apresentações referentes à mera formalidade de não pedir algo a estranhos, informou que precisava de um
pouco de sal. A mulher, de forma solicita, pediu para que entrasse. Estavam na
hora da refeição, sentados à mesa o homem e mais duas crianças estranhamente
felizes. O motivo estava no prato principal, um delicioso salmão sorria para
todos, coberto com um molho branco apetitoso. Sem perceber, perdera-se a admirar
o saboroso cardápio de forma tão incisiva, que a mulher perguntou se não queria
uma “provinha”. Aceitou de prontidão. Triste equívoco.
Em casa, saboreou cada garfada
como se estivesse a desfrutar a ambrosia dos deuses. A comida perdeu o gosto,
simples assim. Daquele dia em diante, tudo que experimentava não possuía mais
gosto. Após duas semanas, decidiu parar de comer qualquer coisa que não fosse
aquele salmão. Tentou fazê-lo em casa inúmeras vezes, encomendou nos melhores
restaurantes, mas nenhum era igual ao salmão que lhe despertou para os sabores
da vida. Seu desespero maior foi quando soube do falecimento da vizinha.
Morrerá sem passar a receita. No velório, diante de um marido e dois filhos
estarrecidos, chorava copiosamente diante do túmulo da mulher.
Passou a definhar, a perda de
peso era constante. Os parentes desesperados levaram-no em médicos, clínicas,
até tentaram contato com a falecida através de uma sessão espírita, mas em nada obtiveram sucesso. Na sua mente, estavam vívidas as memórias do gosto, sabor e
textura. Nunca mais comera outro
alimento. Morreu exatamente 3 meses após o ocorrido. Dizem que morreu dormindo
devido à fraqueza, balbuciando alguma coisa. A verdade é que morreu sonhando,
sonhando com o salmão com molho branco. Sussurrando qualquer coisa do tipo “não
experimente algo que você não pode ter”. Morreu por amor.
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