Jeferson Luis de Carvalho
- Que demora!
- Como?
- Que demora! No atendimento!
- Ah, sim, como sempre.
- Ao menos, estamos sentados.
- É verdade.
- Seguro desemprego?
- Sim, saí mês passado, ou melhor, saíram comigo!
- Isso acontece.
- E você? Trabalha ou trabalhava com o quê?
- Sou matador.
O sujeito caiu na
risada.
- Essa é boa.
- Como?
- Você, matador.
- O que tem?
- O que você faz de verdade?
- Já disse, sou matador.
- Tipo matador, matador?
- É, matador.
- Mas isso lá é profissão?
- Bem, para ganhar dinheiro, limpo vidraças.
- Então você é limpador de vidraças?
- Não, eu sou um matador que limpa vidraças.
- Você ganha dinheiro para matar pessoas?
- Não. Mato pessoas por princípios, não por dinheiro.
- Por princípios?
- Sim, mato pessoas que estejam desperdiçando a vida.
- E como você sabe?
- Ué, converso com elas, abordo, investigo e decido.
- Como assim? Você decide na hora?
- Sim.
- E como ter certeza?
- Certeza?
- Sim, e se você matar alguém enganado?
- O que tem?
- Ora, imagina, alguém morrer enganado.
- Todos erram, é natural, não vejo problemas nisso.
- Mas é uma vida.
- Entre 6 bilhões, uma vida não significa lá aquela
coisa. Não sinto culpa, não tenho pretensão de ser perfeito. Costumo acertar a
grande maioria das vezes, os erros, são ossos do ofício. Mas, realmente, nunca terei
certeza.
- Como assim? É uma vida, um ser humano.
- A vida é supervalorizada, a existência ou não do
ser humano não modifica o andamento do restante do planeta. A nossa existência
aqui nesta espera, não influência a ordem das coisas. Poderíamos desaparecer
nesse exato instante e aquela mulher mexendo no celular nem ao menos notaria.
- E a polícia? Nunca pegou você?
- Sou o melhor no que faço, já matei em uma praça
pública. Em pleno domingo. É surpreendente o desespero das pessoas em cuidarem
apenas das suas vidas. Você acha que alguém se importa?
- Ninguém deixaria alguém caído no chão sem vida.
- Você realmente acha?
Nisso,
levantou, e antes que o outro pudesse fazer qualquer coisa, acertou-lhe um
golpe seco um pouco abaixo da costela. O homem surpreendido sentiu o ar lhe
faltar e o grito sair silencioso. O atacante deitou seu corpo lentamente contra
a parede e saiu tranquilamente. O homem deixou-se tomar por uma sensação
estranha de bem estar. Seus olhos foram fechando, e a última coisa que viu foi
o número da sua senha sendo chamado.
Ao
final daquele turno de trabalho, um funcionário da limpeza viu, embaixo de um
cliente dormindo, uma mancha de sangue.
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