Navegar
no Facebook virou quase um hábito inconsciente e involuntário na sociedade
atual. É recorrente que, ao menos uns cinco minutos por dia, percorra-se a timeline desse aplicativo, visitando a
vida pública, nem sempre real, de inúmeras pessoas. Não fugindo a regra, também
estava “vasculhando” esse universo de postagens e dizeres quando me deparei com
um pequeno vídeo sobre uma personagem que não queria ser uma formiga, no qual
duas pessoas discutem como nosso dia a dia impulsiona-nos a ignorarmos
detalhes, mantermos padrões e vivermos em um eterno piloto automático, sem
encontrarmos o botão para desligá-lo.
É
fato, cada vez mais, lutamos constantemente pela tão sonhada liberdade. Exaltamos
o fim de semana perfeito em meio à natureza, a tarde sentada ao sol sem
influência nefasta de Cronos. Tomaz Antônio Gonzaga, em seu célebre Marília de
Dirceu, versou: “Num sítio ameno,/Cheio de rosas,/De brancos lírios,/Murtas
viçosas,/Dos seus amores/Na companhia,/Dirceu passava/Alegre o dia.”, é essa a
satisfação que todos buscam.
Abraçamos
um ritmo alucinante em nossas vidas cotidianas, e muitas vezes lamentamos isso,
porém usufruímos de suas consequências, quanto mais incessante a rotina,
maiores as possibilidades de se possuir um bom carro, uma boa casa, uma “boa
vida”. Perambulamos entre dois opostos, o desejo bucólico e anseio urbano e
tecnológico.
O
problema é que, durante esses afazeres intermináveis, vamos esquecendo os
detalhes, viciando nossas vistas, negligenciando o micro em prol do macro,
aprendendo, assim, a sermos efetivos e objetivos. Nesse processo, pessoas
passam a ser números quantificados e pesados conforme a proximidade, nomes são
substituídos por profissões e as amizades são controladas por contagens de redes
sociais; tudo muito justificável pela comodidade, uma vez que abraçar leva
muito tempo e sentar para uma conversa é um luxo impensável na correria atual.
O
que todos esquecem é que somos apenas o resultado de uma negociação há muito já
feita por nossos antepassados, pela sociedade do ontem. Nossas vidas, como
idealizamos, foram vendidas por quantias que vão atualizando-se ou sofrendo
acréscimos generosos com o passar dos anos, mas em momento algum a negociação
pode ser desfeita, o contrato já foi firmado, registrado e reconhecido. Talvez,
o que se possa fazer, é transformar a rotina em que vivemos em algo a mais do
que um meio para algo, transformá-la no próprio algo, transformá-la
essencialmente na vida, sem a necessidade de aguardar um momento bucólico que
pode nunca chegar. Thoreau disse em seus versos que foi à Floresta porque
queria viver, mas o que precisamos entender é que, talvez, não exista mais
Floresta aonde ir, e precisamos aprender a viver exatamente no ponto onde
estamos. Achar tempo para um abraço e uma conversa em meio ao sem fim de
obrigações que possuímos é primordial. Sermos formigas, presos a funções e
vidas extremamente controladas, não necessariamente significa não sermos
humanos.
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