A semana que passou foi marcada pelo
lamentável atentado terrorista que vitimou quase uma centena de pessoas em uma
comemoração na França. Imediatamente, a notícia e o vídeo sobre o caminhão
percorrendo 2 quilômetros desenfreadamente correram o mundo. Portais de
notícias bombardeavam atualizações, emissoras chamavam seus correspondentes.
Uma comoção, plenamente justificada, diga-se de passagem, frente à atrocidade
cometida, mas quantos caminhões passam por aí e ignoramos?
Um
caminhão desenfreado, atropelando inúmeras pessoas, transita todos os dias nas
fronteiras europeias quando pessoas são impedidas de ingressarem em um país sob
pretexto de que ferirão a economia local, morrendo em cercas e mares. Ou seja,
nesses casos, entre uma vida humana e a possibilidade de comer um McDonalds no
sábado à tarde, esse último prevalece.
Um
caminhão sem freio desce, guiado por uma cultura machista, atropelando mulheres
de todas as idades dia após dia, deixando órfãs de mães inúmeras crianças,
assim como órfãs de felicidade milhares de mulheres vítimas de abusos. Apenas
sendo interpelado, quando um vídeo e outro vazam via internet.
Um
caminhão desgovernado continua arrastando milhões de africanos em situações
desesperadoras, mas é ignorado porque “eles que não se desenvolveram”. Esse
mesmo caminhão percorre as ruas do nosso país até os bairros da periferia,
colocando entre a pobreza e a miséria milhões de brasileiros.
Contudo,
o caminhão mais perigoso, o mais cruel de todos, é conduzido pela indiferença e
pelo conformismo, e ele vai abrindo caminho para os demais caminhões, que
passam escoltados por esse veículo feroz, que segue de forma firme e
ininterrupta seu caminho. É esse o caminhão que deveríamos combater. Não a
mídia, não os governos, mas, sim, nós, no dia a dia, nas horas cotidianas,
pois, se o conformismo e a indiferença são os motoristas, somos nós com os pés
no acelerador.
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