Quando estava na antiga oitava série, hoje nono
ano - amanhã sei lá qual nome receberá -, desafio mesmo era aprender
matemática, decifrar aquele emaranhado de números e letras, em uma mesma
equação, era algo inatingível. Tanto que, nos anos seguintes, em razão de
proporcionalidade, minha ignorância frente à ciência dos números crescia à
medida que as contas adquiriam novos elementos. Ao final do Ensino Médio, o
tamanho da conta era correspondente à minha falta de conhecimento. Contudo, com
o tempo, deparei-me com uma equação muito mais complicada de solucionar.
Não
vivemos sozinhos, absortos em nosso mundo. Por incrível que pareça, diante de
nossas atitudes cotidianas, dividimos o planeta com outros animais e, principalmente,
com outros de nossa espécie. Por vezes, esse dividir significa compartilhar de
um mesmo espaço, viver, nem que seja por alguns minutos por dia, sob um mesmo teto,
compartilhando um tempo de nossas vidas. E aí surgem os empecilhos.
Conviver
significa “viver com”, e isso implica uma gama de exigências que tornam esse
exercício um desafio à razão e uma verdadeira arte. Logo de cara, encaramos um
problema relacionado a um fato um tanto óbvio, mas negligenciado por muitos:
não somos iguais. Não adianta, alguns gostam de Hemingway e Dostoiévski,
outros, de Paulo Coelho e Augusto Cury; alguns gostam de goiabada, outros, de
queijo, e muitos apreciam ambos. A falta de uniformidade é o que faz da nossa
espécie algo mágico e instigante, mas também acarreta em um exercício constante
e cansativo de entendimento da pluralidade.
Sangramos,
no sentido conotativo do termo, a cada imagem desconstruída, a cada expectativa
não correspondida. Elaboramos e construímos nosso mundo de possibilidades
baseados em nosso pequeno universo, esquecendo as peças motoras dessa engrenagem
existencial: as pessoas que compartilham de nossas vidas. Peças dotadas,
igualmente, de seus próprios universos, de seus próprios desígnios e planos. Em
um mundo composto por mais de 6 bilhões de diferentes mentes, estabelecer um
prognóstico para ações coletivas é como montar um castelo de cartas em meio a
um vendaval, o risco de frustração é muito grande.
Quem
sabe, em meio a esse turbilhão, a saída seja jogar cada carta de uma vez, elaborarmos
castelos somente quando recebermos outras cartas, mas, acima de tudo, quando
enxergarmos no outro o desejo de construir um castelo. Segurar esse ímpeto de
projetar no outro as nossas expectativas é uma questão de sobrevivência, de necessidade
e, além de tudo, de justiça com o próximo, pois, ao fazermos isso, desobrigamos
o outro de corresponder a expectativas por nós elaboradas e idealizadas.
Como
fazer isso? Eis uma pergunta pertinente e difícil de ser respondida, uma vez
que isso implica, antes de mais, autoconhecimento e coragem para descartar
aquilo que não poderá desejar e alcançar. Para conviver, é preciso saber, em
muitos momentos, abrir mão do orgulho, deixá-lo em estado de hibernação sem destruí-lo,
entretanto sem mantê-lo com o controle das rédeas. Aqueles que souberem a
resposta já estão alguns metros à frente nessa linha, aparentemente sem fim, chamada
vida.
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