quinta-feira, 21 de abril de 2016

Ignore

       Ignore as mães solteiras que acordam cedo todos os dias para cumprir jornadas longas de trabalho e ainda encontram tempo para criarem filhos com educação e trabalhadores.
   Ignore as mulheres que acordam cedo todos os dias para encararem jornadas duplas, desempenhando suas funções profissionais durante o dia e, posteriormente, à noite, enfrentam a rotina dos afazeres da casa.
       Ignore as mulheres que se dispõem todas as noites a sentarem em bancos escolares, estudando para adquirirem diplomas e obterem uma carreira de sucesso.
      Ignore as mulheres que passaram por provações e hoje ocupam cargos de destaque nacional e internacional em empresas multinacionais e de grande representatividade no ramo empresarial.
     Ignore as mulheres que comandam reuniões em salas repletas de homens engravatados, que apreendem e seguem as ordens por elas dadas.
      Ignore as mulheres que lutam por direitos, que desafiam o senso comum e aventuram-se em locais antes destinados apenas aos homens.
      Ignore que temos uma presidente mulher, que a Alemanha possui uma chanceler, que Hillary Clinton é uma das políticas mais importantes dos EUA.
         Ignore Kathrine Switzer, Amelia Earhart, Virgínia Wolf, Florbela Espanca, Simone de Beauvoir, Frida Kahlo, Rachel de Queiróz, Chiquinha Gonzaga, Maria Esther Bueno, Olga Benário, Anita Malfatti, Maria Lenk, Maria Quitéria, Cora Coralina, Maria da Penha, entre tantas outras. Se não conhece uma delas, pesquise antes de ignorar.
      Ignore que a sua irmã, sua mãe, sua esposa, sua namorada, sua amiga ou sua parente próxima podem estar, neste momento, longe dos afazeres domésticos e chamados “do lar”, e, assim, não poderão servir de capa para a revista.
       Quem sabe, apenas assim, em um exercício extremo de indiferença, possa-se encontrar lógica em uma capa tão infeliz como a da última edição da Revista Veja.

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