domingo, 7 de junho de 2015

E um dos melhores partiu

        Texto de 1 ano atrás.

       Meu avô era das antigas. Quem o conheceu sabe. Não era chegado a sorrisos, “sorrir demais não era uma boa característica de um homem que se preze” dizia. Contudo, tinha seus lampejos. Adorava mimar aos netos ao seu estilo, chamava, dava o presente e com a mesma rapidez que chamava, virava o rosto e voltava a fazer o que estava fazendo. Um dia mandou eu me vestir, iríamos para o centro. Como sempre, não falou o porquê, nem outro tipo de explicação qualquer, apenas mandou. No centro, entramos na loja e ele sério e sem sorriso disse: “escolhe uma pra ti, o vô vai dar!” Era uma touca do Internacional. Fiquei feliz da vida, original, bonitona, eu teria uma touca do time do meu coração, do meu pai e claro, do meu avô. Ele era colorado, ao seu estilo, viu o Internacional ser octacampeão gaúcho, o rolo compressor de 40, o tricampeonato brasileiro, a Copa do Brasil, mas não viu os anos 2000, e mais, não viu Fernandão jogar.
 Não direi aos meus filhos e netos que era um craque da estirpe de Neymar, Messi, Ronaldinho. Era estilo diferente. Fernandão destacava-se por algo que era comum na época de meu avô: caráter. Jogava o futebol com princípios. Vestia a camiseta do time, portava-se como um torcedor, cantava junto à torcida seus cânticos e gritos. Doava-se ao time. Se meu avô pudesse tê-lo visto jogar, talvez vislumbrasse um relance daqueles jogadores da década de 40 que ficavam felizes de estarem em campo por um time como o Internacional, sem pensarem em quando algum europeu irá interessar-se pelo seu futebol. Talvez meu avô me chamasse para falar que anos atrás os jogadores eram como Fernandão. E ficaríamos, eu e ele, horas e horas na frente da velha casa, tomando chimarrão, escutando suas histórias. Eu adorava quando meu avô fazia isso. Talvez, quando o visse às lágrimas após a demissão como treinador, diria: depois do Falcão é o segundo colorado de verdade que vejo no Internacional. 

 Assim como meu avô o fez, antes de poder ver o Inter ganhar seus títulos mais importantes, Fernando aposenta-se dessa vida. Deixa como legado uma história bonita e marcante aos olhos de inúmeros colorados, gremistas e torcedores em geral. Contudo, acima de tudo, aposenta-se para a eternidade com a patente de Capitão Fernandão.

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