segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Carta para o bom velhinho

Carta para o bom velhinho

Querido Papai Noel – espero que seja querido, mas se não o for, encare o elogio como uma abertura de negociações amigável -, estou escrevendo tardiamente minha carta de fim de ano, mas como dizem por aí, antes tarde do que nunca. A propósito, nunca entendi bem essa coisa mística com a virada de ano, onde ficam os outros 365 dias do ano? Se não mudar no início só muda no ano que vem? Sei lá, vai entender. Enfim, tenho alguns pedidos e espero que possa ser atendido.

Antes, se me permite, gostaria de saber: como o senhor organiza a sua logística? Porque entregar presentes para o mundo inteiro deve dar trabalho. Nós temos aqui no Brasil os Correios, o senhor não deve conhecer porque se não usaria, e eles cobram quase R$ 40,00 para que algo chegue em 24 horas no destino. Falando em procedimentos, sei que existem inúmeros lugares na Terra inexplorados, mas não consigo crer que há algum ponto no pólo norte que abrigue um campo industrial suficiente para produzir todos os pedidos. Digo isso porque sei de pessoas que ganham carros de presente, pode isso? Já que estamos entendidos – desculpe Papai Noel, não consigo ser objetivo -, diga-me: como funciona sua relação comercial com os grandes fabricantes? Eles repassam apenas os custos operacionais do produto ou toda a carga de impostos também? Por falar em impostos, o senhor paga impostos para entrar com mercadorias dentro do país? Se a resposta for negativa, tenho que ser honesto e evidenciar minha extrema reprovação, pois tive um desconto exorbitante em meu último imposto de renda e mesmo assim sou obrigado a pagar essas taxas. Espero que essa minha última observação não abale nosso relacionamento. Por fim, como operam essas renas? Possuem algum tipo de alimentação específica ou algo do tipo? Dentro das possibilidades, adoraria receber um exemplar desses belíssimos e particulares animais, pois estou um tanto decepcionado com meu meio de locomoção movido a combustível fóssil. Pode parecer engraçado bom velhinho, mas o combustível é obtido em território nacional, não é terreno de ninguém, mas infelizmente eu não sei como pega-lo e nem como transformá-lo em gasolina, por isso pago por ele. O preço é surreal. Se possuir umas quatro renas que não voem mais, mas que possam se locomover com agilidade e velocidade em terra, eu já agradeceria.

Bem, findadas as curiosidades, chega a hora dos pedidos. Estou meio velho para isso e cá entre nós um pouco descrente. Não quero que soe ofensivo, mas tenho quase certeza que não vi vestígios seus nos últimos 28 anos. Se estiver enganado quanto ao fato, desculpe. Para esse ano, gostaria de uma Ferrari, dessas vermelhas, com rodas esportivas, símbolo do cavalinho e tudo mais. Mas descobri que o IPVA de um carro desses é maior que meus vencimentos anuais. Então...fico com o meu. Queria uma casa, dessas com 5 banheiros e 10 quartos. Mas também descobri que o IPTU é proibitivo, então fico com a minha. Uma viagem não seria nada mal. Conhecer culturas, povos diferentes, mas não conheço direito nem meus vizinhos, então eu vou ficar por aqui mesmo. Saúde. Isso eu preciso. Parei de fumar, mas estou tomando água em garrafa e descobri que ela é cheia de sódio, existe algo que não faça mal? Pensando bem, trazer saúde está difícil também.

Ficamos combinados com o seguinte. Traga-me tempo. Esse em excesso e sem restrições. Tempo para ficar com minha família, para passear no parque, para brincar, para mim, para não fazer nada...para viver! E claro, tempo para escrever uma carta. Não traga relógios, esses, a vida me dá aos montes.


Jeferson Luis de Carvalho

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