terça-feira, 9 de agosto de 2016

Histórias curtas 6


Caroneiro

               Ela bebia o amor em doses homeopáticas, três vezes por semana. Distanciara-se das formalidades e receitas prontas, abandonara a cartilha de como amar na sua última experiência formal quando teve as regras burladas e desvirtuadas pelo outro participante do “acordo”. Sentia-se livre, aprendera a concentrar suas necessidades básicas para felicidade em aspectos seus, levava-se a si para jantar em restaurantes quando se sentia entediada, organizava sessões de séries regadas a generosas doses de pipocas, pedaços de chocolate e outras guloseimas. Segura de si, desfilava pela vida sem beiras ou curvas, não precisava delas, andava ao seu bel prazer, linha reta e objetiva, sem desvios, colocara como meta não ter parâmetros, não olhava para o lado, não se preocupava com outros, seguia sozinha à sua velocidade, ao seu ritmo. Certo dia, chocou-se com outro assim, identificou-se, gostou, ofereceu um assento dinâmico para a viagem - um dia na carona, outro dia no volante; ele não quis, ela partiu, quem dirige uma vez sua própria vida, não aceita sentar mais no caroneiro.

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