sexta-feira, 24 de junho de 2016

No meio do caminho


            Carlos Drummond de Andrade escreveu: no meio do caminho tinha uma pedra. Essa pedra poética de Drummond, em diversos momentos, surge imponente diante de nós, ofuscando qualquer luz de esperança e alento, sufocando nossas vontades, nossos ânimos, fazendo com que, no transcorrer da trajetória, desejemos sentar à beira da estrada e lá perecer ou, em outros casos, retroceder, dar meia volta e retornar para o local de partida. Entretanto, não está aí a saída de tudo.
            Atualmente, como uma voraz e insaciável Esfinge, partimos em nossas jornadas com duas saídas possíveis: decifra-me ou te devoro. Não abrimos espaços para um revés momentâneo, somos movidos pelo empurrar neurótico da vitória eterna, pelo dever para com o sucesso perene e irreversível, pelo ascender soberano e irrevogável. Somos ensinados a sempre olharmos à frente, visarmos ao início da fila, desejarmos ao cume final, ignorando o que ocorre em nosso interior; preocupamo-nos tanto com o labirinto de vida que nos rodeia, que esquecemos do labirinto de vida que somos.
            Vivemos vidas de tensões, em que o primeiro a sair da estrada é o perdedor, uma ode à competição. Transformamos um passeio em um desafio de velocidade. Excluímos de nossas contas vitalícias alguns fatores fundamentais para a solução correta do cálculo da felicidade, enquadramos a derrota no rol dos troféus destinados aos fracos.
            Ignoramos que, em certos pontos, precisamos sair da pista, sentar à beira da estrada, aceitarmos o revés instantâneo e aprendermos com ele. Enxergarmos que ser um perdedor no agora não significa ser um derrotado eterno. Às vezes, é na beira da estrada que conseguimos olhar as pedras por outro ângulo, encontrar formas de transpô-las e visualizar, nem que seja de relance, a recompensa que elas escondem, e assim ganhamos forças, realimentamos nossos ânimos.

            Abandonar a competição, desistir da disputa insana, dedicar um tempo para lambermos nossas feridas sem culpa, recuperarmos nossas energias, alcançarmos a paz e a tranquilidade, por vezes, é o segredo para atingirmos o final desejado. E, assim, na linha de chegada, com o percurso vencido, agradecermos por termos encontrados as nossas pedras no meio do caminho.

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