Carlos
Drummond de Andrade escreveu: no meio do caminho tinha uma pedra. Essa pedra
poética de Drummond, em diversos momentos, surge imponente diante de nós,
ofuscando qualquer luz de esperança e alento, sufocando nossas vontades, nossos
ânimos, fazendo com que, no transcorrer da trajetória, desejemos sentar à beira
da estrada e lá perecer ou, em outros casos, retroceder, dar meia volta e
retornar para o local de partida. Entretanto, não está aí a saída de tudo.
Atualmente,
como uma voraz e insaciável Esfinge, partimos em nossas jornadas com duas
saídas possíveis: decifra-me ou te devoro. Não abrimos espaços para um revés
momentâneo, somos movidos pelo empurrar neurótico da vitória eterna, pelo dever
para com o sucesso perene e irreversível, pelo ascender soberano e irrevogável.
Somos ensinados a sempre olharmos à frente, visarmos ao início da fila,
desejarmos ao cume final, ignorando o que ocorre em nosso interior;
preocupamo-nos tanto com o labirinto de vida que nos rodeia, que esquecemos do
labirinto de vida que somos.
Vivemos
vidas de tensões, em que o primeiro a sair da estrada é o perdedor, uma ode à
competição. Transformamos um passeio em um desafio de velocidade. Excluímos de
nossas contas vitalícias alguns fatores fundamentais para a solução correta do
cálculo da felicidade, enquadramos a derrota no rol dos troféus destinados aos
fracos.
Ignoramos
que, em certos pontos, precisamos sair da pista, sentar à beira da estrada,
aceitarmos o revés instantâneo e aprendermos com ele. Enxergarmos que ser um
perdedor no agora não significa ser um derrotado eterno. Às vezes, é na beira
da estrada que conseguimos olhar as pedras por outro ângulo, encontrar formas
de transpô-las e visualizar, nem que seja de relance, a recompensa que elas
escondem, e assim ganhamos forças, realimentamos nossos ânimos.
Abandonar
a competição, desistir da disputa insana, dedicar um tempo para lambermos
nossas feridas sem culpa, recuperarmos nossas energias, alcançarmos a paz e a
tranquilidade, por vezes, é o segredo para atingirmos o final desejado. E, assim,
na linha de chegada, com o percurso vencido, agradecermos por termos
encontrados as nossas pedras no meio do caminho.
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