sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Problemas nossos de todos dias

             Paulo Leminski, no poema Bem no fundo, levanta a hipótese, pra lá de tentadora, de os problemas passarem a ser resolvidos apenas por decretos. A ideia é maravilhosa, você acordar pela manhã, em uma segunda-feira qualquer, e decretar o fim de qualquer contragosto que possa existir. Imagine as possibilidades, a vida seria agradável, as pessoas seriam agradáveis, tudo seria mais leve. Mas, infelizmente, a ideia só existe no poema.
            Não podemos resolver os problemas por decretos. Eles não se ausentam, atrasam ou esquecem de comparecerem, dia após dia, pontuais como um inglês. Eles se reinventam, modificam, dando uma possibilidade infinita de combinações, não deixando, dessa forma, que o atormentado reclame do marasmo e da mesmice. Problemas, além disso, não se incomodam em se mudarem, em se reinstalarem em outros locais, não são enraizados, são mutáveis, nômades e, lamentavelmente, companheiros fiéis.  
            Um professor vive com a pressão de conteúdos e trabalhos (provas) para corrigir; um advogado trabalha acompanhado de pilhas infinitas de papéis com clausulas e artigos; um administrador convive com a responsabilidade de gerenciar eternamente procedimentos, balanços e pessoas; um jornalista corre incessantemente atrás de uma pauta, um furo, uma novidade; um pedreiro passa dias acompanhado das intempéries, dos desejos dos empregadores e da fadiga corporal; todos possuem suas bagagens de dificuldades compartilhando, também, os desafios diários de suas respectivas vidas pessoais.
       Quem sabe os problemas não sejam, realmente, e perdão pela redundância, problemas. Talvez sejam combustíveis para a vida, contribuam para manter as locomotivas de nossas existências trabalhando constantemente. Assim, o que resta para nós, pobres mortais, é aprendermos a conviver com eles, de mãos dadas, de boa vontade. Não é sadio necessitarmos de momentos leves para sermos felizes, pois eles são esporádicos e inconstantes. As dificuldades nos movem, Eduardo Galeano escreveu que as utopias são objetivos inalcançáveis, mas necessários, pois fazem com que continuemos caminhando. Possivelmente, seja isso mesmo.
            Portanto, que nesse início de ano - sim, gostando ou não, no Brasil o ano começa, realmente, na próxima quinta-feira após o carnaval - possamos aprender a valorizar os problemas e, de certa maneira, nutrir por eles um imenso carinho. Eu, de minha parte, tentarei (o que já é muito) abraçar com fraternidade as provas, as preparações das aulas e os trabalhos incontáveis, administrando tudo com minhas produções como escritor, para alcançar, bem, ainda não sei o quê. 

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