Paulo
Leminski, no poema Bem no fundo, levanta a hipótese, pra lá de tentadora, de os
problemas passarem a ser resolvidos apenas por decretos. A ideia é maravilhosa,
você acordar pela manhã, em uma segunda-feira qualquer, e decretar o fim de
qualquer contragosto que possa existir. Imagine as possibilidades, a vida seria
agradável, as pessoas seriam agradáveis, tudo seria mais leve. Mas, infelizmente,
a ideia só existe no poema.
Não
podemos resolver os problemas por decretos. Eles não se ausentam, atrasam ou
esquecem de comparecerem, dia após dia, pontuais como um inglês. Eles se
reinventam, modificam, dando uma possibilidade infinita de combinações, não
deixando, dessa forma, que o atormentado reclame do marasmo e da mesmice.
Problemas, além disso, não se incomodam em se mudarem, em se reinstalarem em
outros locais, não são enraizados, são mutáveis, nômades e, lamentavelmente,
companheiros fiéis.
Um
professor vive com a pressão de conteúdos e trabalhos (provas) para corrigir;
um advogado trabalha acompanhado de pilhas infinitas de papéis com clausulas e
artigos; um administrador convive com a responsabilidade de gerenciar
eternamente procedimentos, balanços e pessoas; um jornalista corre incessantemente
atrás de uma pauta, um furo, uma novidade; um pedreiro passa dias acompanhado
das intempéries, dos desejos dos empregadores e da fadiga corporal; todos
possuem suas bagagens de dificuldades compartilhando, também, os desafios
diários de suas respectivas vidas pessoais.
Quem sabe
os problemas não sejam, realmente, e perdão pela redundância, problemas. Talvez
sejam combustíveis para a vida, contribuam para manter as locomotivas de nossas
existências trabalhando constantemente. Assim, o que resta para nós, pobres mortais,
é aprendermos a conviver com eles, de mãos dadas, de boa vontade. Não é sadio
necessitarmos de momentos leves para sermos felizes, pois eles são esporádicos
e inconstantes. As dificuldades nos movem, Eduardo Galeano escreveu que as
utopias são objetivos inalcançáveis, mas necessários, pois fazem com que
continuemos caminhando. Possivelmente, seja isso mesmo.
Portanto,
que nesse início de ano - sim, gostando ou não, no Brasil o ano começa,
realmente, na próxima quinta-feira após o carnaval - possamos aprender a
valorizar os problemas e, de certa maneira, nutrir por eles um imenso carinho. Eu,
de minha parte, tentarei (o que já é muito) abraçar com fraternidade as provas,
as preparações das aulas e os trabalhos incontáveis, administrando tudo com
minhas produções como escritor, para alcançar, bem, ainda não sei o quê.
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