sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Eu vi D'Alessandro jogar

            Nada é para sempre. Absolutamente nada. Algumas coisas demoram mais tempo para passar, outras surgem e desaparecem rapidamente, mas nada nesse Universo é eterno. D’Alessandro também não seria.
            Vez ou outra, às vezes por acaso, outras por méritos da astúcia e planejamento, nos deparamos com fenômenos, fatos que ocorrem com tal intensidade e força, que surgem já despertando o amargo sentimento da despedida tal o desejo de eternidade que possuímos em relação a eles. D’Alessandro foi um desses fenômenos. Despediu-se há muito tempo, ou melhor, iniciou sua despedida em 2008 quando chegou ao Internacional. Iniciou com acenos tímidos do camarote do antigo Beira-Rio para torcedores que assistiam a derrota do colorado para o Santos de Robinho. Mal sabiam aqueles torcedores, que recebiam a atenção daquele argentino invocado, que estavam testemunhando o início de um ciclo para sempre marcado na história do gigante vermelho.
            O adeus de D’Alessandro seguiu com um título inédito da Copa Sul-Americana, simplesmente o primeiro time brasileiro a ganhar a competição. No ano seguinte, mostrou o porquê seria conhecido como homem grenal conduzindo, como um maestro, vitórias acachapantes contra o Grêmio. Pobre torcedor tricolor, muitos perderam o sono devido ao gringo abusado. Contudo, aquilo ainda era pouco para o argentino que, em 2010, liderou um time trôpego, sem muita criatividade, mas com muita raça, ao topo da América. Além disso, no mesmo ano, consolidou-se como o melhor jogador da América. D’Alessandro era especial. Conquistou, a seguir, a Recopa Sul-Americana. Como se não bastasse, nos anos que se sucederam, imperou no Rio Grande do Sul de forma impiedosa, e um tanto cruel, sobre o maior rival do time vermelho.
            Cada troféu, cada ida ao alambrado para torcer e batucar junto à torcida, cada reposta ácida endereçada ao rival, cada lágrima derramada foram despedidas suficientes para o torcedor. Poucas vezes testemunhamos um jogador com relativo currículo internacional vir ao sul do país e fincar bandeira por tanto tempo. Anos passarão e as futuras gerações comentarão que durante 7 anos desfilou nos gramados gelados do sul do Brasil um gênio canhoto e temperamental. Um jogador que adorava os grandes jogos, venerava o clássico grenal, um meia como pouco se viu.
            D’Alessandro sai do gramado, sai do Beira-Rio, para se imortalizar ao lado de Fernandão, Falcão, Escurinho e outros tantos craques que desfilaram com a camisa vermelha. Vai vestir o manto da história, da memória, ficará, para muitos jovens colorados, como o maior jogador que vestiu a camisa 10. Aqueles colorados que, como eu, ouviam dos mais antigos “eu vi Falcão jogar”, agora poderão, com todo orgulho do mundo, falar: eu vi D’Alessandro jogar! A vida é muito melhor do lado de cá, sempre foi, obrigado por nos lembrar disso Andrés D’Alessandro. Boa sorte!





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