quarta-feira, 25 de março de 2015

Conversa pré-nupcial

- Oi!
- Oi!
- Tudo bem?
- Tudo.
- Lugar cheio, né?
- Aham.
- Você é daqui?
- O quê?
- Você! É daqui da cidade?
- Ah...olha, não quero parecer grossa, mas é que vim com minhas amigas para dançarmos um pouco...
- Sim, sim. Sem problemas, não está sendo grossa. E então, você é daqui?
- Oi?
- Você, ainda não respondeu a pergunta.
- Olha...tá difícil de você entender. Você é daqui?
- Eu? Sim, sim. Nasci no bairro do Largo, aqui pertinho. Conhece?
- Sim.
- Então é daqui?
- Sou.
- Quantos anos você tem?
- Você não sabe que não se pergunta a idade de uma mulher?
- Ah...desculpa.
- 27.
- O quê?
- 27!!
- Sua idade?
- Sim, você não perguntou?
- É que pensei que...bem, tenho 28.
- Hum...olha, daqui a pouco minhas amigas estão chegando, então acho melhor você...
- O quê?
- Você sabe. Sei lá, dar uma volta por aí.
- Não, obrigado. Sabe que caminhei por aí e não encontrei nada interessante?
- Deve ser o som que está alto.
- O quê?
- Você, pelo jeito não está entendendo nada do que digo.
- Estou sim.
- Então?
- Pode falar.
- Não acredito, você...não!!
- O que foi?
- Minhas amigas! Passaram por aqui e acharam que eu estava conversando com você e foram embora.
- Mas você está conversando comigo.
- Não, você está conversando comigo.
- Hum.
- Hum o quê?
- Você!
- O que que tem eu?
- Nem ao menos lembra de mim.
- Deveria lembrar?
- Se você levar em consideração que estudamos no mesmo colégio; que fizemos parte da mesma equipe das olimpíadas do colégio por mais de dez vezes; que joguei no seu time de vôlei por 7 vezes; que troquei o pneu do seu carro após uma festa em que você e suas amigas estavam alcoolizadas; que comprei todos os livros do Vinicius para poder recitar algo bonito quando te encontrasse, porém não lembro nenhum; e que fiquei aqui ignorando o fato de você ter me dispensado umas 9 vezes em 8 minutos; acho que você deveria.
- Pois então, se mesmo depois de tudo isso, eu não lembro, acho que isso significa alguma coisa, não acha?
- Hã?
- Olha minhas amigas! Um conselho, desencana! Tchau!
    Ele demorou um pouco mais de um ano para digerir aquele momento. Ela demorou 5 minutos, que foram o suficiente para encontrar Carlos e seu sorriso arrasa quarteirões. Ele casou e nunca mais leu Vinicius. Ela casou, adotou o sobrenome do marido e deu o nome de Vinicius para o segundo filho. Ambos não entenderam o porquê de lembrar disso após 20 anos. Ela voltou a si e pediu para a secretária chamar o próximo paciente. Ele foi acordado de seu devaneio quando ouviu o seu nome sendo chamado, concluiu que a lembrança devia ter surgido graças ao nome da médica que o atenderia ser idêntico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário