-
Você nem me ligou.
-
Pois é, precisamos conversar.
-
Ai, lá vem bomba.
-
Calma, antes de mais nada, saiba que você é muito especial.
-
Tá, mas...
-
Olha, eu até queria, mas você precisa entender.
-
Entender o quê?
-
Não dá, não podemos ficar juntos.
-
Por quê?
-
Como posso dizer...eu não sou assim, mas as pessoas são. São maldosas, falam
por aí...sabe como é, né?
-
Não sei como é! O que tem as pessoas? O que elas falam?
-
Ah, não vem ao caso e...
- Como não? Está terminando comigo devido a
isso, tem tudo a ver com o caso.
- Sabe a Pri?
- O que tem a Pri?
- Pois é, ela falou que já ficou com você.
- Sim, mas foi há muito tempo, em uma festa,
foi algo banal.
- Exato, o problema é a banalidade. Para ela,
você foi apenas uma coisa banal. Sempre que eu passar por ela, estarei com isso
esfregado na minha cara. Não dá, não posso. Sabe como é, né?
- Espera aí. Você está assim por uma coisa que
aconteceu há muito tempo?
- Mas é que não foi só a Pri, teve a Pri, a
Renata, a Júlia e a Flavinha, só para falar de minhas amigas próximas.
- E você? Quer que eu nomeie meus amigos e
conhecidos que já ficaram com você? Não há nem comparação.
- Eu entendo, veja bem, sou estudada,
esclarecida, mas a sociedade é cruel. Até algum tempo atrás, homem esperava a
mulher para casar. Se fico com você, imagina o que vão falar: olha lá, a
Lurdinha com o Márcio! Todo mundo já andou com o Márcio. Sabe como é, né?
- Isso é um baita de um feminismo hipócrita!
- Não leva para esse lado, não. Procure
entender. Ah, Márcio, não vai chorar, por favor.
- Entender? Quer dizer que vocês podem tudo e
os homens não podem nada?
- Não é isso. Olha a televisão, a novela. Quer
saber? Eu acho que você não quer entender. E eu não ficarei discutindo, gosto
muito de você, mas o que minha família iria pensar? Infelizmente, tenho
família, nossos filhos teriam avós, tias, mães de coleguinhas que já teriam
ficado com você. Já imaginou a vergonha? Olha, do fundo do coração, acho,
realmente, que você precisa se dar mais o valor. As mulheres não te dão o valor
por isso, olha a roupa que você está usando, ou que não está usando, parece que
estamos em um daqueles seriados de praias paradisíacas, em que você está
fazendo o papel de salva-vidas. Você sempre parece um salva-vidas com esses
braços de fora. E esse calção?
- O que tem o calção?
- Meu Deus, parece uma sunga. Você não esconde
nada. Veste-se como um homem da vida.
- Mas você está com um decote enorme...
- Já disse, eu até entendo, mas a sociedade é
implacável, implacável..
Antes
de sair, ela deu um último beijo em Márcio, agarrou a mão dele bem forte, olhou
nos seus olhos e disse:
- Olha, até fico meio assim de dizer isso, mas
gostei mesmo de ti. Se quiser, por assim dizer, me encontrar um dia desses para
matar a saudade...você tem meu número. Agora, namorar, não tem como. Se
valoriza, querido. Sabe como é, né?
Nenhum comentário:
Postar um comentário