terça-feira, 21 de outubro de 2014

Profissão de fé

O Big-bang é a teoria mais aceita hoje em relação a criação do universo. De acordo com ela, o Universo é oriundo de uma imensa explosão causada pelo acumulo excessivo de massa em apenas um ponto. Após a detonação, essa massa foi expandindo-se até formar estrelas, planetas, luas e tudo como conhecemos. A criação de um professor não tem todo esse glamour. Não há um acumulo excessivo de massa pronta a estourar, muito menos criação de corpos celestes. Talvez uma pequena explosão interna no canto mais restrito da mente, suficientemente forte para causar o despertar para a profissão. Contudo, as consequências são mágicas.
                Alguns lembram com clareza o momento em que optaram pelo magistério. Brincando em casa com a irmã(ão) mais novo, ensinando e auxiliando os colegas. Eu, particularmente, estou no grupo que lembra. Não enxerguei nenhuma luz, raio divino ou qualquer tipo de providência. Para falar bem a verdade, na época de colégio, em momento algum tive o deslumbre de tomar o rumo da docência.
O mundo e seus mistérios, professores e suas crenças inabaláveis. Valendo-se de Olavo Bilac, professor é profissão de fé. É devoção, é entrega, é pular no abismo sem saber se a corda está bem amarrada no tornozelo, é contar com o inexistente. No conto “O ex mágico da taberna minhota”, Murilo Rubião conta que para encerrar a mágica que brotava involuntariamente da personagem principal, a solução foi a entrada no setor público. O autor, com certeza, não se referiu ao ensinar. É na prática da sala de aula que encontramos a consolidação existencial do objeto de devoção do professor. É no sorriso sincero do aluno ao entender um conteúdo, no agradecimento silencioso por um conselho dado, na gratidão expressa em gestos e ações que está aquilo que imaginamos. Com toda certeza, não há profissão nesse mundo que traga tanto retorno humano como a docência. É esse retorno que nutri o mestre cansado, que desperta o coração mal tratado, que revive o espírito combalido, que o faz olhar para trás e agradecer pela profissão que escolheu.

                Não conseguimos determinar o evento que faz com que uma pessoa escolha essa carreira. Entretanto, podemos ver o que origina-se dessa escolha. Do professor, como em um bing-bang, se originam mundos, pequenos universos complexos e dinâmicos.  É um presente para aquele que ao entrar na sala não abraça apenas uma profissão, mas sim um novo modo de ser. Abstém-se de seu nome de batismo para virar Prof.,Sor.,Fessor.,entre outros. 

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