Profissão de fé
O Big-bang é a teoria mais
aceita hoje em relação a criação do universo. De acordo com ela, o Universo é
oriundo de uma imensa explosão causada pelo acumulo excessivo de massa em
apenas um ponto. Após a detonação, essa massa foi expandindo-se até formar
estrelas, planetas, luas e tudo como conhecemos. A criação de um professor não tem
todo esse glamour. Não há um acumulo excessivo de massa pronta a estourar,
muito menos criação de corpos celestes. Talvez uma pequena explosão interna no
canto mais restrito da mente, suficientemente forte para causar o despertar
para a profissão. Contudo, as consequências são mágicas.
Alguns
lembram com clareza o momento em que optaram pelo magistério. Brincando em casa
com a irmã(ão) mais novo, ensinando e auxiliando os colegas. Eu,
particularmente, estou no grupo que lembra. Não enxerguei nenhuma luz, raio
divino ou qualquer tipo de providência. Para falar bem a verdade, na época de
colégio, em momento algum tive o deslumbre de tomar o rumo da docência.
O mundo e seus mistérios,
professores e suas crenças inabaláveis. Valendo-se de Olavo Bilac, professor é
profissão de fé. É devoção, é entrega, é pular no abismo sem saber se a corda
está bem amarrada no tornozelo, é contar com o inexistente. No conto “O ex mágico
da taberna minhota”, Murilo Rubião conta que para encerrar a mágica que brotava
involuntariamente da personagem principal, a solução foi a entrada no setor
público. O autor, com certeza, não se referiu ao ensinar. É na prática da sala
de aula que encontramos a consolidação existencial do objeto de devoção do
professor. É no sorriso sincero do aluno ao entender um conteúdo, no
agradecimento silencioso por um conselho dado, na gratidão expressa em gestos e
ações que está aquilo que imaginamos. Com toda certeza, não há profissão nesse
mundo que traga tanto retorno humano como a docência. É esse retorno que nutri
o mestre cansado, que desperta o coração mal tratado, que revive o espírito
combalido, que o faz olhar para trás e agradecer pela profissão que escolheu.
Não
conseguimos determinar o evento que faz com que uma pessoa escolha essa
carreira. Entretanto, podemos ver o que origina-se dessa escolha. Do professor,
como em um bing-bang, se originam mundos, pequenos universos complexos e
dinâmicos. É um presente para aquele que
ao entrar na sala não abraça apenas uma profissão, mas sim um novo modo de ser.
Abstém-se de seu nome de batismo para virar Prof.,Sor.,Fessor.,entre outros.
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